Redes sociais da ABA:
Logo da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia
3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 023: Diálogos no campo da Antropologia da Alimentação: Comensalidade, Ética e Diversidade
Apresentação Oral em GT
Rodrigo Araújo Maciel
Ciência à mesa: propostas de endereçamentos do saber gastronômico a partir dos conceitos da gastronomia molecular
Claude Lévi-Strauss, ao redigir seu estudo basilar sobre a alimentação, já chamava a atenção para a importância da utilização de técnicas e tecnologias na dinâmica humana daquilo que descrevia como “passagem da natureza à cultura”. Principalmente quando sublinhava o papel do fogo na operação cultural de transformação do alimento cru para o cozido, alegoria exponencial de sua argumentação. Ainda que eventualmente mencionados, essas operações do ato culinário foram poucas vezes tomados como centrais, ou mesmo problematizadas suficientemente, na literatura antropológica. Transpostos para um contexto no qual a utilização do fogo em si já não figura mais como a ferramenta exclusiva empregada no fazer culinário, cabe questionar como são concebidas, apropriadas e hierarquizadas essas subsequentes tecnologias e saberes que despontam no horizonte culinário, gastronômico e de forma mais geral, humano. Sobretudo em um contexto no qual o desenvolvimento e o domínio da técnica são tomados como instrumentos legitimadores das diversas apropriações feitas pelo homem em espaços concebidos como naturais, assim como sua consequente transformação e/ou submissão. Neste sentido despontou como rico o estudo da nova disciplina científica chamada gastronomia molecular. Ao objetivar uma racionalização do híbrido campo da gastronomia, aproximando-o de áreas como a química e a física, esse revestimento científico das práticas culinárias consolidou-se nos finais do século XX e hoje é introduzido massivamente nas escolas e faculdades do Brasil. Lida no presente work como uma tentativa de dar uma unidade paradigmática para uma área que é tida como artística e subjetiva, esse esforço responderia a necessidade de legitimar a gastronomia enquanto ciência, justificando assim o espaço que essa pretende em locais como o meio acadêmico. Através da transformação da cozinha em laboratório, do cozinheiro em cientista e dos pratos em experiências, observam-se conjuntamente a inserção de novas técnicas e tecnologias, garantindo dessa forma a manifestação de novos fenômenos, e consequentemente, novos discursos. Buscando acessar essa realidade por meio de uma pesquisa qualitativa que pauta-se na etnografia em faculdades e cozinhas de gastronomia molecular, observamos as maneiras como essa proposta se insere no plano de ensino e o quanto e como estas técnicas e ideais são assimiladas pelos discentes, docentes e profissionais. Visamos ultrapassar as reduções operativas estabelecidas na tentativa de identificar as redes tecidas que acionam e articulam diversos interesses - tanto individuais quanto institucionais e derivados; identificando o quanto essa “cientificização” embasa ou fortalece o papel da gastronomia não apenas no meio universitário, como também na sociedade em geral.