Redes sociais da ABA:
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3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 001: A GESTAO PUBLICA DA PROSTITUICAO: politicas, putas e conflitos nas arenas locais e internacionais
Apresentação Oral em GT
Mara Clemente
work sexual e tráfico de seres humanos em Portugal. 
Desafios éticos e políticos
O que acontece quando uma trabalhadora do sexo “torna-se” uma vítima de tráfico? Quais são os desafios éticos e políticos face os quais pode-se encontrar a prática etnográfica no estudo do tráfico e da exploração sexual? Quais são as estratégias para articular um diálogo proveitoso entre os diferentes atores - a academia, a população de trabalhadores sexuais, as vítimas de tráfico, as organizações governamentais e não-governamentais? Nos primeiros anos deste século, a reação de algumas mulheres portuguesas organizadas no movimento das “mães de Bragança” contra a “invasão” da região norte do país por parte de trabalhadoras do sexo brasileiras e, especialmente, a necessidade de adaptação do país às políticas europeias de combate ao tráfico de seres humanos (TSH), atraíram a atenção midiática e política sobre a prostituição e o TSH em Portugal. Era uma altura em que avançava lentamente o work de algumas organizações não-governamentais, que começaram a trabalhar ao lado de um pequeno grupo de organizações católicas historicamente envolvidas na assistência das mulheres com experiência de venda de sexo. Ao longo dos anos manteve-se praticamente inexistente um movimento de trabalhadores sexuais. Mesmo a tentativa de estabelecer uma rede de organizações, trabalhadores do sexo e pesquisadores, parece mover-se ainda hoje com timidez e preocupação em relação à gestão das relações institucionais e dos respectivos financiamentos.
A partir de 2007 teve início no país também a construção de um sistema de prevenção e combate ao TSH e assistência às vítimas mas um “barulhoso silêncio” das vítimas – especialmente mulheres, estrangeiras, com uma experiência de exploração sexual – coloca fortes dúvidas em relação o pleno reconhecimento de uma “victimhood". Um forte estigma e um paradigma securitário de gestão do tráfico de seres humanos parecem manter essas vítimas fora das estimativas produzidas anualmente a nível ministerial, do sistema Português de assistência das vítimas de tráfico, bem como das limitadas experiências de pesquisa empírica sobre o tema. Atualmente, em Portugal, o status e a etiqueta de vítima de tráfico excluir ou, pelo menos, torna extremamente complexo e excepcional o encontro destas com a pesquisa, colocando numerosas questões éticas e políticas que o artigo pretende analisar dentro de uma reflexão crítica mais ampla sobre a colaboração e as relações complexas entre diferentes atores: a prática etnográfica, a população de trabalhadores do sexo e a das vítimas de tráfico, os agentes governamentais e não-governamentais.