GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Francisco José Barbosa
O ritual de morte como dignificação social em Luanda
Esta pesquisa foi parte da Tese “Nas fronteiras da liberdade: colonização, descolonização e ritos fúnebres na Angola contemporânea”, pois, convivendo por mais de cinco anos entre o povo angolano, dentre tantos ritos que compõem essa sociedade, o ritual de morte foi o que mais me chamou atenção, devido a grande repercussão, comoção e ajuntamento que promove na sociedade. A força em querer viver independentemente do sofrimento, é uma marca desse povo, que dignifica seus ancestrais com atos de coragem no quesito enfrentar as agruras sociais. Essa pesquisa teve como objetivo analisar as práticas ritualísticas fúnebres do grupo kimbundu e Umbundu na região de Luanda/Angola, tendo como metodologia a pesquisa qualitativa pela via etnográfica, pois participei de mais de vinte rituais fúnebres em Luanda. Dessa pesquisa constatamos que a morte é encarada como uma parte da vida e também como possibilidade de resgatar a estrutura da família novamente, juntando-se com seus ancestrais que já se foram (morreram) e, consequentemente, passam a aguardar aqueles que ainda não passaram por esse ritual (morte), era uma forma de juntar-se à família, e acabar com o sofrimento causado pelas violências na colonização e descolonização. Com a invasão cristã advinda da colonização e da cultura portuguesa, a morte para os angolanos sofre um pouco a influência católica e passa a ser além da busca da ancestralidade (concepção africana) ser também a busca do céu (concepção católica), que não pode ser conquistado através dos suicídios, e sim pela influência e a adesão ao cristianismo, que exige a dedicação total do fiel para ter direito ao céu. No caso de Angola, nem o Estado com suas concepções ocidentais de modernidade, que tentam ignorar a importância social dos ritos de morte, e nem a igreja cristã, conseguiram impedir a prática tradicional do ritual. Com facilidade é possível encontrar e participar dos rituais fúnebres em qualquer província de Angola, e perceber que há algo em comum em todos: a expectativa de fazer um bom ritual fúnebre em casa e convidar a família e amigos para participar, pois o ritual é aglutinador, une e ajuda a dar esperança para uma sociedade que sofreu com a violência e dignificar a memória em vida daquele que se foi. Conversando informalmente com vários estudantes constatamos que é comum às suas famílias ao longo da vida, guardar dinheiro e encarregar outras pessoas para lhes fazerem funerais dignos, com todos os detalhes e requintes possíveis, evidenciando, assim, a importância que o arcabouço simbólico do ritual de morte tem na atual sociedade, mostrando como essa prática une o povo em qualquer segmento da estrutura social.
Palavras-chave: Ritual; Morte; Dignidade