Redes sociais da ABA:
Logo da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia
3 a 6 de agosto de 2016
João Pessoa - PB
UFPB - Campus I
GT 006: Antropologia da morte: teorias de ritual
Apresentação Oral em GT
Aline Lopes Rochedo
Fazer das cinzas diamantes: a busca pela eternidade no mundo visível através de joias de família
As reflexões que proponho neste artigo emergem de uma investigação mais ampla sobre lógicas de transmissão e circulação de joias no âmbito familiar. Sendo a morte uma dimensão fundamental no repasse de um adorno entre gerações e na própria instituição de um artefato como sendo “de família”, visitei works sobre ritos funerários, relações entre vivos e mortos e diferentes concepções acerca da morte. Neste processo, deparei-me com produções acadêmicas que tratam de joias de afeto, de luto ou de cabelo, acessórios vitorianos que foram moda entre membros das elites nos séculos XVIII e XIX. Venho considerando estes resíduos materiais móveis como agentes sociais capazes de afetar e prolongar as relações entre ancestrais e herdeiros após procedimentos e ritos de despedida e descarte de cadáveres. Paralelamente a essa produção, interessei-me pelos processos de cremação e rituais posteriores envolvendo cinzas mortuárias, até me deparar com reportagens e sites de diferentes países – Brasil, inclusive – contendo narrativas ritualísticas sobre diamantes sintéticos fabricados em laboratórios a partir de carbono humano, pedras que, depois de serem lapidadas e retornadas a famílias enlutadas em porta-joias, não raras vezes são encrustadas em ouro, platina ou prata e transformadas em adornos corporais carregados e reverenciados pelos descendentes. Purificadas, tornam-se relíquias humanas, peças que cabem na palma da mão e/ou podem enfeitar corpos e que, provavelmente, serão incluídas em inventários, convertendo-se em nova modalidade de joias de família e borrando ainda mais as fronteiras entre pessoas e coisas. A discussão que proponho neste work envolve uma nova ritualização a partir da materialização de cinzas (reformulação do corpo morto) em diamantes (purificação), joias e itens a ser inventariados. Entendo que este processo concede nova vida social e novo estatuto ao corpo morto e que, ritualizado de diferentes maneiras por períodos posteriores aos ritos funerários “convencionais”, interfere na presença-ausência-presença. Em forma de bem de luxo com identidade conflituosa, o(a) falecido(a) é móvel, pode circular e viajar, e também pode ser pensado(a) como um agente social capaz de provocar emoções nos vivos e protagonizar novos ritos. Não há um ato final prescrito para quem morreu e teve as cinzas convertidas em gema, muito menos para aqueles que guardam a relíquia do antepassado, até porque, como indicam depoimentos reunidos em reportagens a que tive acesso de diferentes países, enlutados do(a) morto(a) transformado(a) em diamante aderem à retórica dos laboratórios, que prometem a eternidade também no plano material, no “mundo visível”.
Palavras-chave: Cinzas, diamantes, joias