GT 001: A GESTAO PUBLICA DA PROSTITUICAO: politicas, putas e conflitos nas arenas locais e internacionais
Apresentação Oral em GT
Laura Rebecca Murray
Puta politics - Uma reflexão teórica e etnográfica sobre o ativismo de prostitutas no Brasil
Nas batalhas diárias para direitos, as prostitutas ativistas brasileiras tem demostrado que a sexualidade não é uma arma, é uma política. Baseada em três anos de pesquisa etnográfica no Rio de Janeiro, Belém e Corumbá, utilizo o conceito de “jogos sérios” (serious games) da Sherry Ortner para pensar o Estado e sua relação com o movimento de prostitutas como espaços de criação de arenas públicas, e, portanto, de confrontos sociais, políticos e ideológicos. Argumento que esses campos são caraterizados por uma complexidade orquestrada e caos intencional de parte dos atores estatais, e que as prostitutas ativistas usufruem das ambiguidades e contradições inerentes às subjetividades de “ser puta” para mobilizar instituições e poderes culturais, sociais, politicos, e midiáticos a seu favor. Da mesma forma que pesquisas antropológicas sobre prostituição tem documentado que intercâmbios sexuais nem sempre se enquadram nos conceitos de “work sexual” e “prostituição”, concluo que a forma de ativismo do movimento organizado de prostitutas no Brasil tampouco se encaixa nas categorias analíticas sobre movimentos sociais. Em reconhecimento dessa singularidade, denomino a forma das prostitutas fazerem política como puta politics. Uma mistura flexível de iniciativas, puta politics rompe definições fixas de ativismo e procura abolir as divisões entre instituições e a rua; há mais ênfase e investimento em incentivar discussões e ações em esquinas de política e prazer, que incorporar prostitutas em estruturas institucionais de ativismo e do Estado. Estratégico, sedutor, múltiplo, politicamente incorreto e para alguns até contraditório, puta politics desafia hierarquias da sexualidade, fazendo o “imoral” e “inapropriado” visível - e ainda com graça. Por isso, a história entre o movimento e o Estado é de conflitos – de lutas para a legalização da profissão acompanhado de fugas de regulações; lutas contra o HIV/AIDS sem aceitar ser taxadas como “grupo de risco”; e lutas contra o tráfico de mulheres que resistem ao resgate e vitimização. No entanto, argumento que como uma política que se vale da ambiguidade, os processos funcionalistas de higienização, moralização e institucionalização da rua reduziram seu potencial como política na medida que foram ganhando espaço nos campos burocráticos do ativismo nos três municípios estudados.